domingo, setembro 26, 2004

SEGUNDO OPÚSCULO SOBRE A GALERA (Versão para sábado à noite)

Agitam-se, lá fora. Fazem fila, pulam.
Eu fumo, bebendo todas sozinho, ouvindo Mingus.
Eles estão ouvindo sons. Querem as horas, enquanto
Eu estou gozando pedrinhas estatelando no scotch,
Ainda alheio a todas as possibilidades da estética social.
Uma estética de patricinhas.
Uma estética de sobrenomes, anabolizantes, etiquetas,
da província da Galera.

Embebedo-me docemente. Deixo o mundo sensível
Como a pena que se desprende de uma gaivota
E deita na praia, sobre o bumbum de uma
Banhista.
Eles tombam, surdos, um a um,
Sob rajadas de álcool, oferecido em formas deselegantes,
Em fórmulas que ofendem o que o álcool propõe a oferecer
Aos seres humanos.

Eles fazem a coorte. Os carros atraem as fêmeas em idade
Fértil. Tombarão depois,
Sob rajadas de álcool oferecido em formas exóticas.
Eu faço fumaça. Eu ouço Mingus e penso. Eu existo.
Existo de forma racional, perdendo a sobriedade na paz
De um Chivas maior de idade.

Quando eu morrer, se eu for bom moço, o céu terá para mim
Um Peterson cheio de fumo Borkum, e um lote celestial de scotch indicado
Pela Rainha.
A galera terá a danação eterna, pois treinam desde agora
Para sua estadia nos infernos.
Eu serei um eterno estereótipo do escritor fracassado
que ainda gosta de jazz,
Uísque, Mingus, D.Thomas. Mas no céu.
Nos infernos estará a galera, damnada eternamente, um
Estereótipo ainda pior, fulminado pelos piripaques de ecstasy e
Daquelas coisas que a galera ouve.

Eles já estão no inferno. Ainda me resta desprender-me
Da gaivota.