sábado, novembro 06, 2004

POBRE YORICK!

“Alexander died, Alexander was buried, Alexander returneth into dust; the dust is earth; of earth we make loam; and why of that loam whereto he was converted might they not stop a beer-barrel? Imperious Caesar, dead and turn'd to clay, Might stop a hole to keep the wind away. O, that that earth which kept the world in awe should patch a wall to expel the winter's flaw!”
(W.Shakespeare. Hamlet, V.I)

Por rir dos corpos mortos fui levado à reflexão e vi que quebrei a cara fazer chacota do incauto jornalismo de guerra (leia o post anterior). Dois fatos recentes mostram que o corpo de um morto pode, sim, estar vivo, em contraposição ao seu oposto mais comum, um corpo morto encontrado morto. Vejamos que o primeiro fato veio ocorrer justamente no Brasil, nas últimas semanas, com o desenterro do morto Herzog e, como não podia deixar de ser, de todos os milhões de brasileiros mortos na mais horrenda ditadura que o mundo já conheceu. Pela primeira vez, o corpo de um morto é encontrado vivo, eloqüente, cuspindo ódio e vingança, trazendo mal estar e rancores que pareciam enterrados. Virou caso de governo e caiu um coveiro, digo, um ministro que não soube dizer pra todo mundo que há dois cemitérios: o de covas abertas, no quintal da sociedade civil e outro no mundo da governança, que precisa saber usar pás de cal para olhar adiante.
Outro fato é o quase-morto (até agora) Yasser Arafat. Um legítimo corpo vivo de um morto. Em seu coma profundo, Arafat agita toda a galera lá fora enquanto decide se vai ou não enfrentar o misericordioso julgamento do Senhor. A julgar por seu comportamento anterior, é bem capaz de Arafat ficar um tempo morto, cansar-se da morte e depois voltar para liderar a Palestina enquanto as coisas ainda não se acertam. Fourty more years! Fourty more years!