domingo, setembro 26, 2004

SEGUNDO OPÚSCULO SOBRE A GALERA (Versão para sábado à noite)

Agitam-se, lá fora. Fazem fila, pulam.
Eu fumo, bebendo todas sozinho, ouvindo Mingus.
Eles estão ouvindo sons. Querem as horas, enquanto
Eu estou gozando pedrinhas estatelando no scotch,
Ainda alheio a todas as possibilidades da estética social.
Uma estética de patricinhas.
Uma estética de sobrenomes, anabolizantes, etiquetas,
da província da Galera.

Embebedo-me docemente. Deixo o mundo sensível
Como a pena que se desprende de uma gaivota
E deita na praia, sobre o bumbum de uma
Banhista.
Eles tombam, surdos, um a um,
Sob rajadas de álcool, oferecido em formas deselegantes,
Em fórmulas que ofendem o que o álcool propõe a oferecer
Aos seres humanos.

Eles fazem a coorte. Os carros atraem as fêmeas em idade
Fértil. Tombarão depois,
Sob rajadas de álcool oferecido em formas exóticas.
Eu faço fumaça. Eu ouço Mingus e penso. Eu existo.
Existo de forma racional, perdendo a sobriedade na paz
De um Chivas maior de idade.

Quando eu morrer, se eu for bom moço, o céu terá para mim
Um Peterson cheio de fumo Borkum, e um lote celestial de scotch indicado
Pela Rainha.
A galera terá a danação eterna, pois treinam desde agora
Para sua estadia nos infernos.
Eu serei um eterno estereótipo do escritor fracassado
que ainda gosta de jazz,
Uísque, Mingus, D.Thomas. Mas no céu.
Nos infernos estará a galera, damnada eternamente, um
Estereótipo ainda pior, fulminado pelos piripaques de ecstasy e
Daquelas coisas que a galera ouve.

Eles já estão no inferno. Ainda me resta desprender-me
Da gaivota.

segunda-feira, setembro 20, 2004

A FUMAÇA DO BOM DIREITO

PRESSÃO ALTA. CINQUENTA E SEIS SEGUNDOS.
Lançar em DVD uma bosta como “Extermínio” pode. Fumar não. Fazer anúncio no jornal contratando moças para futura exploração de lenocínio também pode. Fumar não. Assistir “Olga” é preciso. Fumar não. Pode-se comprar e ler, sem intervenção do poder público, o catálogo da exposição Polaroides, de Warhol, mas fazer isso fumando é proibido. Fumar você não pode. Cachimbo também não, pois a vida precisa ser triste e amarga. A chatíssima paranóia anti-tabagista provocou um câncer social e faz padecer até mesmo os adeptos do cachimbo. Alastrou-se nas instituições. Está nos clubes, bares, corridas de fórmula um, barbearias e até em locais próprios para fumantes, onde também se proíbe fumar. Cachimbo inclusive, bem entendido, para desgraça daqueles que não podem partilhar com um cachorro os momentos de reflexão mais íntima ou não conseguem fazê-lo num vaso sanitário.

PRESSÃO ALTA. VINTE E TRÊS MINUTOS.
É mais fácil encontrar sites ou anúncios fornecendo instruções para ataques terroristas, cooptando membros para milícias de extrema-direita ou promovendo a pirataria do que encontrar uma loja on line que venda inofensivos cachimbos. Por algum motivo, certamente ligado à assepsia smoke-free, os cachimbos desapareceram da Internet nacional para venda on-line. Escreva para alguma loja, via e-mail, perguntando pelo último catálogo da Peterson e logo militantes anti-bush e defensores dos direitos humanos estarão à sua porta buscando explicações para o uso, em pleno novo milênio, desse um artefato bárbaro e poluidor.

PRESSÃO ALTA. TRINTA E UM MINUTOS E DOIS SEGUNDOS.
O governo manda imprimir, atrás dos pacotes de tabaco, fotos representando as conseqüências extremas da escolha do vício. Crianças intoxicadas, corpos abertos em cirurgias, fetos apodrecendo, pulmões em chamas, almas danando no inferno, Jean-Paul Sartre mostrando os dentes e rindo. Comunica-se ao estúpido adepto do cachimbo que até ele terá que pagar caro pelos momentos até então impunes de prazer. Os que podem comprar Cohibas em breve terão que passar pelo constrangimento de exibir em público o charutão com essas atrocidades impressas em toda sua cheirosa superfície.

PRESSÃO ALTA. TRINTA E QUATRO MINUTOS E OITO SEGUNDOS.
Se o mundo fosse perfeito, o Ministério da Saúde faria um pouco mais de justiça com as demais futilidades modernas cujo uso, supõe-se, conduz à morte. Perdeu a chance, por exemplo, de precaver os pais das futuras seqüelas que acarretarão os filmes da série Harry Porter. Um sujeito com ar de palerma, cabelos em desalinho e sorvete de creme colado na cabeça. Embaixo, escrito “O Ministério de Saúde Adverte: O consumo desse filme provoca retardo mental a longo prazo”. Essa ameaça daria conta de sérios problemas de saúde coletiva. As mostras que fazem o Paço Imperial do Rio de Janeiro enquadrar-se numa coisa entre canteiro de obras e hospital psiquiátrico deveriam também ter, todas, advertências espalhadas em cada montagem, até para evitar que o transeunte/cidadão fique parado horas admirando a tomada na parede esperando interagir com a arte. Todas as seções de auto-ajuda de cada livraria desse país seriam precedidas por rigorosas admoestações quanto ao uso de produtos desse calibre e perigo. As vendas de “Quem mexeu no meu queijo”, com suas variações (Quem mexeu no meu queijo para jovens, para pais. para executivos, para contadores, para fracassados, para idiotas etc) seriam proibidas em todo o país. “A arte da guerra” se tornaria apenas mais um clássico oriental que não serve para nada. O mundo seria melhor. Eu fumaria em paz.

domingo, setembro 12, 2004

A Idade das Trevas

Eu odeio a galera. Tudo desaba sob seu jugo, fundamento de toda perversão, de todo fracasso, de todo erro. Ninguém deveria seguir a galera, pois na galera caminha-se para a morte. Caminha-se para lugar nenhum, melhor dizendo, com a galera, sequer se caminha, pois não há destino algum. A galera fede, a galera ri, a galera dança, a galera é um nojo. Desde a gênese dos erros humanos, está lá a galera: o retrato do mal no início dos Tempos. Não à toa, a galera foi uma das mais infames das penas, pois os sórdidos, os ladrões, os bandoleiros eram condenados a remar em galeras, que eram movidas também pelo vento, mas para garantir a dor da punição, empregava remos movidos por aquilo que se resolveu chamar, séculos depois, de galera. Não mais um barco, um simples barco, mas um bando de degredados que se junta para compartilhar a humilhação comum de remar por toda a eternidade, e que séculos mais tarde irá errar pelas cidades, becos, puteiros, tribunais e madrugadas, sob o nome geral e consagrado de galera. E hoje, nessa condição, a galera manda. Por isso a escória, para ser escória, vai se encontrar com a galera. Por isso é que se ama, loucamente, a galera. Por isso é que a galera está na área, e quando a galera manda é melhor tomar cuidado, esconder-se, fugir para bem longe. A galera não tem rumo. Há séculos, milênios, galera alguma teve rumo, senão por via de condenação judicial. Hoje a galera anda solta, livre, crescendo livremente num ritmo solto e alucinante. Todo mundo quer entrar para a galera e eu não, eu quero fugir, porque sei o perigo que me aguarda diante da galera que cresce cada vez mais, que cada vez mais rola morro abaixo feito uma avalanche, destruindo tudo pela frente. Essa é a galera, da qual ninguém tem medo, só eu tenho medo, mas que hoje todos querem pertencer. Quem não é da galera, diz a galera, não sabe o que está perdendo, mas eu sei, sei bem, que a galera tem duas caras, aliás, não tem cara alguma porque tem todas as caras e está em todos os lugares, ameaçando a vida, a beleza, a harmonia do mundo. Se eu pudesse, pegava uma arma e investia contra a galera, essa praga, antes que a galera me destruísse, mas não posso porque nunca se derrota a galera, porque com a galera ninguém pode. Posso apenas orar pelos infelizes que vão lá, felizes, encontrar com a galera, rumo à danação. É o que explica, a meu ver, todas as desgraças do mundo.

sábado, setembro 11, 2004

APOSTILAS DO CURSO PREPARATÓRIO PARA CONCURSO DE FISCAL DE CONCURSO e ANALISTA DE FISCAL DE CONCURSO

Prepare-se para conquistar seu espaço, com as novas apostilas da nossa editora. O Governo Federal já anunciou Edital para os próximos meses, onde pretende contratar centenas de Fiscais de Concurso e Analistas de Fiscais de Concurso, em concurso que deverá sair em breve. Mas sempre preparada para as expectativas de seus leitores, a Editora Organon já elaborou as apostilas com base nos últimos concursos federais de Fiscal e Analista de Fiscal de Concurso, com os assuntos mais comuns.

RESUMÃO DE FENOMENOLOGIA, apostila com 30 páginas, versando sobre os pontos mais cobrados de Husserl, Heidegger e Jean Paul Sartre, com mais de 300 questões objetivas comentadas pelos melhores professores de nossos cursos. Grátis, SUPER RESUMÃO DE ESTRUTURALISMO.

INTENSIVÃO DE ONTOGNOSEOLOGIA DA CIÊNCIA JURÍDICA. Com mais de 1000 questões resolvidas, incluindo o SUPER RESUMO, em 5 páginas fáceis de lembrar, contendo os principais pontos mais requisitados sobre Jurisprudência Tópica, Teoria da Argumentação Jurídica, Epistemologia Jurídica da Segunda Metade do Século XX.

SIMPLIFICADO DE ÉTICA (Projeto de Aristóteles a Hannah Arendt). Muitas questões práticas, das mais repetidas em concursos federais nos últimos anos.

BALÍSTICA SIMPLIFICADA. ELEMENTOS DE MEDICINA LEGAL. TODAS AS QUESTÕES SOBRE O ESPECTRO EQUIMÓTICO DE LEGRAND DU SAULLE. Tudo em uma única apostila, com inovador CD para você testar seus conhecimentos nas matérias que mais caem em Concursos Federais para Fiscais de Concursos e Analistas de Fiscais de Concursos.

Garanta já suas apostilas, e prepare-se para vencer!

Os bons tempos vêm aí.

O Nogaret de Brasília, José Dirceu comparou o Ministério Público à GESTAPO. Pediu desculpas, que não foi bem isso, foi infeliz, um equívoco surgido do minuto de bobeira que a gente tem todo dia. Afinal, foi uma coisa boba mesmo agredir a Gestapo dessa forma, mesmo parecendo uma ofensa ao MP, que sequer ainda teve oficializado seu poder investigatório, como a Gestapo tinha.
Mas ainda chegaremos lá, Zé.

In Loving Memory

Os vaticínios sobre minha morte (e que essa página seria tocada por um interino)não se concretizaram. O problema é que fiquei muito tempo no assédio mal sucedido. Muitos não voltaram.
Mas agora está tudo bem, pois estou em paz ouvindo information society em lugar secreto.
Paz e bem.