domingo, maio 16, 2004

I Giorni Dell´Ira

Brincadeira de criança, como é bão, como é bão! Um tal Antônio Pinheiro de Lima resolveu fazer justiça com as próprias mãos e abriu fogo contra um pagodeiro do Molejão. Fez bêbado o que as pessoas de ouvido médio costumam planejar em estado de sobriedade (ou em sonho). Eu mesmo já pensei em balear os caras do Molejo em meus momentos de maior introspecção, até mesmo para que eles não sofressem os padecimentos que realmente merecem e que provavelmente ainda os aguardam quando for chegada a hora do Julgamento. Terá o corajoso ébrio iniciado o movimento de uma Jihad intelectual em nosso país? Se for, estou nessa. Até que o último pagodeiro seja enforcado nas tripas do último bárbaro.

Mais milhas para o povo

A GOL Linhas Aéreas tomou sólida bordoada do DAC depois de uma promoção relâmpago com dezenas de trechos a R$ 50,00. Eu, que tenho que fazer minha peregrinação toda semana, quase exultei não fosse a paralização dos servidores da empresa, lotados de sans culottes querendo trocar o pau d´arara por Boeings. Por pouco não consigo sequer a passagem por preço normal. Diz a Gol que foram vendidos 50000 (cinquenta mil) bilhetes nas três horas em que conseguiu fazer o suposto dumping antes do DAC acabar com o oba-oba. Isso é mais do que a Cyticol consegue vender de cueca de criança em uma semana, no saldão. Imagino o pesadelo de viajar com mais demanda do que oferta se a promoção continuasse. Em Congonhas, a filha adolescente se revolta e indica o ônibus do gate “h” para os pais. Quando o avião da donzela aterrisa em Salvador, o casal infeliz é comunicado que falta uma hora para chegar em Manaus. Um grupo de amigos de cidade de interior de longínquo estado da federação (isso inclui cerca de 40 pessoas) resolve viajar para o Rio ver um jogo do Vasco e ocupam todo o tempo do vôo com calorosas discussões, espalhando o pânico na aeronave, até o momento em que, não suportando o próprio enjôo, começam a passar mal. Nisso, passageiros que ainda vão para Brasília pedem para morrer. Mas nem tudo é desgraça numa promoção de R$ 50,00 porque temos as crianças, ah, as crianças. A professora caridosa de escola do interior de XX resolve, com a ajuda da comunidade, prefeito e vereadores comprar passagens para toda a turminha da 4ª série saber como é um avião e como o “bicho avoa”. Repórteres do Jornal Hoje vão junto para perguntar às crianças “como elas se sentem”. No momento do embarque, o gordinho da turma entra em pânico e tem que ser socado para dentro da cabine com o auxílio do pessoal de terra, dos coleguinhas e dos passageiros que pegarão conexão para Brasília, que pedem para que o suplício seja rápido. Lá dentro, os pimpolhos se deparam com os vascaínos remanescentes do vôo anterior. Na época em que uma família tinha que penhorar as jóias da vovó para viajar de avião, existiam paliativos psicológicos como o tal Variguinho, que tinha até uma revistinha para acalmar as crianças, além de um jantar que em vôos curtos era retirado da boca do cliente para não melar a aeronave na aterrisagem. Toda essa balbúrdia da tal promoção da Gol, além da resposta intervencionista do DAC mostra que a choldra ainda tem esperança de ter uma rede aérea com custos razoáveis no Brasil. Os vascaínos entupindo a cabine são fruto da escolha histórica de inviabilizarmos qualquer meio de transporte coletivo , seja pelos altos preços dos vôos, seja pela instituição do desconforto das estradas. Enquanto viajar for uma opção entre o luxo e o suplício, corro o risco de ter que socar moleques para dentro da aeronave no próximo queimão.

sexta-feira, maio 07, 2004

De um mundo sem os ostrogodos

Depois de pilhar Damieta, veio parar em minhas mãos o volume “Génese e Funcção das Leis Penaes” (M. Angelo Vaccaro. Trad.: de H. de Carvalho. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1914). Dentro, os anúncios de outros livros da gloriosa editora. Irresistíveis. O melhor deles, por módicos 2$000 (cotação de 1914):
Guia Pratico para a Instrucção dos Processos Criminaes, por Hans Gross, prof. de Direito penal na Universidade de Graz. Traduzido pelo Dr. João Alves de Sá, da trad. italiana sobre a 4ª edição allemã com additamentos originaes do Dr. Carrara, professor de medicina legal na Universidade de Turim. I vol. profusamente illustrado, de 640 pag.”

quarta-feira, maio 05, 2004

INDULGÊNCIA PLENA

Antes de ir aos mouros, achei por bem celebrar a Páscoa. Os avisos paroquiais para os que assim desejassem (e é, por certo, dever do cristão fazê-lo), foram reunidos em preceitos ao fim da Missa de Ramos. Ei-los, como foram dados a todos os fiéis, conforme a liturgia local:
1. Terça-feira, às 19:00h, haverá missa dos Doentes. Favor trazer um doente.
2. Quinta-feira, às 05:00h, haverá procissão. Favor trazer velas.
3. Quinta-feira, às 19:00 horas, haverá confissão comunitária. Favor trazer os pecados por escrito.

domingo, maio 02, 2004

A Audiência do Medo

A TV aberta é uma tragédia para todos os que são tementes a Deus ou tenham mais de 20 pontos de Q.I. A partir de 21, fica difícil puxar os cinco melhores (quer dizer, mais suportáveis) programas de dentro da fauna já conhecida. O pau quebrou em reunião etílica com alguns amigos para estabelecer uma seleção de cinco dos melhores representantes da televisão brasileira, para fins de indicação a algum eventual visitante estrangeiro. Não vale programa jornalístico (tema para outra garrafa de uísque), nem os da Cultura ou TVE (seria uma seleção desigual). O conclave regado a Grant´s (para invocar a reta razão) culminou no seguinte.
1. Programa do Ratinho. SBT. É, é isso mesmo. Até quando tenta parecer sério, o programa prima pelo humor involuntário. O Ratinho se encontrou no cruzamento de finesse escatológica e circo de interior. O erro foi tentar, como no início, transformar o espaço em um palanque de chiliques e horrores diversos, como era no saudoso programa Cadeia (do inesquecível Alborghetti).
2. A Grande Família. Globo. A classe média afundante precisa rir de alguma coisa, a saber, de si mesma.
3. A Turma do Gueto. Record. (sem o Frota). Não tenho justificativa para isso. Trata-se de repescagem.
4.Nas Garras da Patrulha. TV Diário (Ceará). Bonecos contando piadas um tanto melhorzinhas do que as de A Praça é Nossa. Fica no ranking para favorecer a integração nacional do país do qual me ufano. Meu personagem favorito é o delegado que tem uma estátua do Padim Ciço que se move em torno do eixo (dá para ver a mão embaixo).
5. A Santa Missa em Seu Lar. Globo (sujeito a variações dos canais locais). Ora et Labora !!!